quarta-feira, 24 de novembro de 2010








Um dia uma semente de feijão...
 

Tudo começou no sonho que tive.
Era uma casa em cima de uma árvore.
Mas na visão  tinha somente  a cobertura da casa. Dá para imaginar a visão de uma cobertura em cima de uma árvore grandiosa?  Dessas que tocam o céu. 
Conseguem imaginar? Senão precisa subir na primeira árvore grande que encontrar e ficar lá no topo. Fiz muito isso quando ainda não sabia que era bom ser criança. Como queria crescer rápido e ficar mandando em tudo como minha mãe.
Então, nessa cobertura muito natural, cheinhas de folhagens verde e borboletas de tons variados avistei a imagem para a pergunta que eu tinha feito ao meu Papito antes de dormir.
Já falei por aqui que imagem me faz silenciar ou que encontro no silêncio muitas imagens. É uma devolução do mim para mim, mais que isso imagens me faz conversar com a grande sábia.  A mulher que faz morada nessa casa que descrevi acima.
E nesse dia, antes do sonho estava extremamente triste, e tinha feito uma pergunta humana e imperfeita ao Papito.  Poderia eu escolher sobre o destino de alguém?
Eu tinha a resposta. A melhor que satisfaria ao meu ego. A do encaixe. Alguém de vocês já tiveram  surtos de respostas de encaixe?  Tive várias por uma semana. Utilizei vários recursos que a tecnologia da informação me ofertava para solidificar a resposta,  tal qual o tijolo com o cimento para a casa que não desaba.
Mas um dia conheci uma mulher que morava numa cobertura. Já falei dela. Não?! Ela é um tanto estranha. Não é bela ao padrão. Mas é bela na transparência. Parece sisuda. Mas se demorar com ela...hum quantos doces ela tem. Claro, primeiro ela te faz reconhecer os contrários.  Os contrários dá muitas histórias. O que quero agora é falar do meu presente. Digo da imagem!
Vocês conhecem uma semente de feijão?
Era assim. Ela colocou na minha mão a semente. E disse: Olhe o que tem na sua mão. Eu disse: Uma semente.
É mais que uma semente, disse ela. É uma semente de feijão, acrescentou.
O que vai fazer com ela, perguntou-me.  Não tinha resposta, pelo menos no sonho eu não dava respostas. No sonho os encaixes são outros, já perceberam?
Quando olhei vinha ao meu encontro um grande pássaro e tomou de mim a semente, subitamente.
Olhei minhas mãos estavam vazias. Olhei para o chão. Fixei no chão. Era muito alto onde eu estava. Eram poucas as minhas asas.
Eu olhei para a grande sabia e ela olhou para mim e sorriu. Quando acordei estava na cama de um hospital. Não senti dor alguma. Não senti vazio nenhum. Chorei as águas que tinha. E hoje olho para o alto e contemplo uma árvore enorme fazendo abrigo. Do pé de feijão? Claro que não, gente!
Contemplo a natureza. Daquilo que sabiamente ela me diz: acolho as mudanças, as transformações, as tempestades, aquilo que é e, também, o que não dá para ser.  Sem muitas respostas para perguntas que não cabe cimento. 
Um dia minhas mãos tocaram uma semente... Assim deu para ser.


Amanhã será um novo dia...

Estava ela parada na minha frente. Olhava-me como quisesse tirar de mim suas próprias respostas.
Eu a fitava, mas não conseguia lhe perguntar nada.
Nem uma palavra.
Nem um sussurro sequer.
Mas as palavras estavam todas lá naquele espaço do quarto, aguardando o tempo oportuno.
Tempo que congelou naquela cena, assim como todos as palavras reduzidas a interpretação do seu rosto.
Ela olhava. Eu a olhava.
Alguém tinha que falar algo, mas o quê?
Seu rosto já dizia tudo. Ou nada. Ainda não sabia.

Ela estava lá. Cabelo despenteado, olhos lacrimejados e cheios de olheiras.
Talvez tivesse passado pela noite e talvez por todos os dias, tentando construir um texto ajeitado que completasse o sentido daquela cena.
E se alguém de repente encontrasse o seu texto e o lesse em alta voz, tão alta que ela mesma escutasse. Talvez assim fizesse mais sentido. Talvez esse alguém apontasse uma nova direção não contrária ao que ela teimava em consertar.
Talvez esse alguém chamasse outras pessoas para desvendar o enigma. E lhe desse uma reposta que construíssem outras tantas. Mais uma resposta tão pronta que a vida teria outra completude.
Talvez esta resposta  tivesse uma casa nova  com personagens atuantes e falantes,  e soubessem de cor suas falas.
E também soubessem só num olhar o que ela queria dizer sempre que saísse aquela piscadela desajeitada.
Pronto a vida seria outra.
Seria a vida em que todos entenderiam de todos e de tudo. E haveria poucas perguntas.
Ninguém perguntaria:
O que é isto que  estou lendo?
O que isto significa?
E agora?

Então! Uma vida simples e fácil. Sem perguntas.
Já teriam parado as perguntas no primeiro parágrafo, e pronto, assunto encerrado!
Mas não sou assim. Teimei e continuei a ler no rosto dela. Continuei a fazer perguntas. E quanto mais fazia menos respostas tinha  por que, simplesmente, perguntava com meu repertório ensaiado, transmutado daquele livro de psicologia. Da bula do alquimista.
Seria tão fácil se ela falasse por meio de palavras significativas, ajustadas, estruturadas e  desenhada no bom português. Eu não trairia as significações pela interpretação apressada, apreendida dos recortes das falas dos meus outros personagens.

Chega! Diga-me agora, o que isto significa!

Sai da paralisia. Aquela situação era angustiante. Tudo no ar menos a palavra que daria desfecho.

Ela  me olha novamente.  Dá uma longa respirada.
Baixa o olhar.
Enxuga o rosto.
Amarra o cabelo com uma fita verde e diz: Vá dormir meu amor.
Em seguida, com um leve sorriso nos lábios e uma voz ajustadamente doce entornou aquela palavra esperada: Eu estou bem!
De pronto respondi com outro sorriso, ao que perguntei:  Está bem mesmo?

Meu bem tudo vai passar. Vá dormir, amanhã será um novo dia. Disse ela.

E desde aquele dia, quando de repente fico com mais perguntas que respostas. Quando o texto parece confuso e fora de contexto. Vem a lembrança daquele leve sorriso, acompanhado daquelas palavras, retirado em meio a tanta dor:
- Eu estou bem.
- Tudo vai passar.
- Amanhã será um novo dia...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A FORMIGA E O GRÃO DE TRIGO



Um grão de trigo, deixado sozinho no campo após a colheita, esperava pela chuva a fim de esconder-se novamente sob a terra.

Uma formiga viu o grão, colocou-o nas costas e partiu penosamente em direção ao formigueiro. À medida que andava, o grão de trigo parecia pesar cada vez mais sobre suas costas cansadas. - Por que você não me deixa aqui? perguntou-lhe o grão de trigo. A formiga respondeu: - Se eu deixar você para trás, podemos não ter provisões suficientes para o inverno. Em nosso formigueiro há muitas formigas e cada uma de nós deve levar para o celeiro todo o alimento que encontrar. - Mas eu não fui feito só para alimentar, objetou o grão de trigo. - Sou uma semente, cheia de vida, e meu destino é dar origem a uma planta. Ouça, cara formiga, vamos fazer um pacto.

A formiga, contente por poder descansar um pouco, colocou o grão de trigo no chão e perguntou: - Que pacto? - Se você me deixar aqui no campo, respondeu o grão de trigo, em vez de me levar para o formigueiro, eu darei a você, daqui a um ano, cem grãos de trigo exatamente iguais a mim.

A formiga olhou para o grão de trigo com ar incrédulo.

- Sim cara formiga, creia no que estou lhe dizendo. Se você desistir de mim agora eu lhe darei cem de mim - cem grãos de trigo para o seu celeiro. A formiga pensou: - Cem grãos de trigo em troca de um só… Mas isso é um milagre! E como você vai fazer isso? perguntou ela. - Isso é um mistério, respondeu o grão de trigo, - É o mistério da vida. Cave um buraquinho, enterre-me dentro dele e volte dentro de um ano.

No ano seguinte a formiga voltou. O grão de trigo transformara-se numa nova planta carregada de sementes, cumprindo portanto, sua promessa.

Leonardo da Vinci